O trabalho voluntário é o principal legado que vem acompanhando a família Marquezin há mais de um século. Desde quando os primeiros imigrantes italianos chegaram em Itatiba, em 1880, a dedicação ao voluntariado estava arraigada ao DNA dos italianos, que teimavam em arregaçar as mangas e fazer da comunidade um lugar melhor e mais justo.
Tradicionais no bairro da Toca, a história de trabalho voluntário dos Marquezin confunde-se com os primórdios da Festa da Uva de Jundiaí. Um dos representantes da quarta geração da família, Vagner Marquezin, hoje com 35 anos, já não se lembra mais se tinha 12 ou 13 anos quando estreou como voluntário na festa, no início da década de 1990.
“Esse espírito coletivo começou com o meu bisavô, Pedro, passou para meu avô, Narciso, depois para meu pai, Antônio. Então, para mim é normal porque sempre fez parte da minha vida”, explica o agricultor, empresário e motorista de caminhão.
Esse “faz tudo” ainda arruma tempo para dedicar-se à comunidade da Toca, onde cultiva raízes desde que nasceu. Sua casa fica ao lado de um restaurante da família recém-inaugurado, com vista privilegiada da zona rural da cidade, onde o ar é diferente. Ladeado por três vira-latas, um bando de patos e uma pequena lagoa aos pés da propriedade, ele diz que “o voluntário é o cara que menos tem tempo”.
O que o motiva é ver de perto o resultado do esforço transformado em cuidados para a comunidade da qual faz parte. A Capela da Toca, conhecida por abrigar a tradicional festa de mesmo nome, acaba sendo o “quartel general” desses soldados da solidariedade. Naquele espaço, ganham vida as atividades do Clube das Mães (responsável em doar cadeiras de rodas e camas adaptadas para enfermos), as ações dos Vicentinos e a atuação das pastorais da Saúde e dos Ministros.
“Só o trabalho dos Vicentinos atende umas 40 famílias. São distribuídos remédios, cestas básicas, uniformes e material para as crianças que ingressam na catequese. Cuidamos mais da igreja do que da nossa casa”, desabafa, contabilizando o alto custo de manutenção de uma paróquia como aquela. “Por isso, para gente, é muito importante a Festa da Uva, tanto quanto a nossa Festa da Toca.” O montante arrecadado na tradicional tenda de frango e polenta frita será rateado entre as comunidades da Toca, Roseira, Vera Cruz e Caxambu.
“Me anima muito o resgate da Festa da Uva tradicional, voltada às famílias, às comunidades e à uva, que é a principal estrela da atração. Foi muito triste, há alguns anos, ver de perto a degradação do evento, se distanciando de sua proposta original, mudando o foco da fruta e da tradição. Agora, com as famílias de volta ao Parque da Uva, temos certeza de que o retorno será muito positivo”, garante.
Mas antes de o dinheiro entrar em caixa, deve-se encarar a rotina quase monástica de um voluntário. Acordar às 6 horas da manhã, chegar no Parque da Uva pouco depois e sair só após a meia-noite, sem tempo para almoço ou janta. “A gente come alguma coisa quando o movimento acalma. Mas fazemos tudo com muito prazer e amor.”
Nesta quinta (22), serão 120 pessoas envolvidas entre preparo e o trabalho na tenda. A quarta geração dos Marquezin mantém a história da família no prumo, e vem sendo assim, por todos esses anos, durante todos os dias de Festa.
Prefeitura de Jundiaí