Ponte Torta faz lembrar o morro que virou aterro

A entrega da revitalização da Ponte Torta no domingo (13), a partir das 17h, dentro da programação dos 360 anos de Jundiaí, faz moradores da região lembrarem da época em que boa parte do morro da Bela Vista foi reduzido para o aterro dos brejos da várzea do rio Guapeva, dando origem ao bairro do Vianelo, na década de 1950.

O projeto Ações de Conservação e Zeladoria da Ponte Torta, iniciado em setembro de 2014, atuou em duas frentes com as técnicas de conservação do agora monumento (observando técnicas construtivas de 1888, quando a ponte foi inaugurada) e com o envolvimento da comunidade em depoimentos que recuperaram parte da memória do seu uso prático e simbólico (base do conceito de zeladoria).

Na Banca do Alemão, uma tradicional referência no acesso da rua Bom Jesus de Pirapora para o Jardim Bonfiglioli, moradores veteranos citaram a importância desse monumento também para entender parte das transformações urbanas da cidade.

Ao centro, o aterro do Vianelo. À direita, prédios no alto do morro da Bela Vista

De acordo com esses moradores, antes dessa obra viabilizada pela engenharia da época (que deixou retos os percursos urbanos de rios como Jundiaí e Guapeva), o local era ocupado por outros usos, como os campos de futebol de várzea de times históricos como o Vasquinho ou o São Cristóvão e também áreas de criação de animais.

“Meu pai Aderval jogava no fim de ano no time dos casados, que se vestiam de mulher. Era uma farra”, lembra Luverci Gomes de Azevedo.

De acordo com pesquisas e depoimentos do projeto, a Ponte Torta surgiu em 1888 para ligar o Centro com a área da industrialização da cidade (principalmente têxtil), na Vila Arens, incluindo um bonde de tração animal para passageiros da estação de trens que durou poucos anos.

“Me lembro que estava em exercício do quartel do Centro, em 1973, quando encontramos um trilho semi-enterrado e contaram essa história. Chegamos a divulgar na época no antigo Jornal do Calçadão, do jornalista Afrânio Bardari”, lembra Júlio César Bianco.

Todos os presentes se lembram da passagem sobre o rio que era feita pela Ponte Torta antes do crescimento urbano na região. “Não havia muitas ruas, os caminhos margeavam o rio e ali mudavam de lado para a região de fábricas como a Argos, a São Bento e outras”, acrescenta Vera Lúcia Munhoz.

Naquela cidade menor e de cotidiano mais “caminhável” (embora com menos acessibilidade) de 1888 a 1960, e mesmo depois disso, a área urbana abrigava opções criativas como as corridas de carriola na Ponte São João. O simbolismo da Ponte Torta nesse cenário inspirou marcas de bebida e muitas histórias sobre as famílias que lavavam roupas no rio Guapeva.

Para seguir até o Hospital do Sesi, no Anhangabaú, o único caminho antes da avenida Jundiaí na década de 1950 ou da avenida Nove de Julho na década de 1970 era a rua Abílio Figueiredo, que sai da praça da Bandeira (ou Largo Santa Cruz), contornando o morro da Bela Vista, que chegou a ter em seu sopé, no córrego do Mato, um pequeno lago narrado em memórias por Virgílio Torricelli.

Moradores do Vianelo, Ponte e Centro na Banca do Alemão: "Memórias devem ser valorizadas"

“Um dos caminhos para a gente chegar ao hospital era a rua Adolfo Gordo, que saía da Ponte Torta”, comenta José Carlos Brunelli, o Batata.

Depois do aterro do Vianelo, a redução de área de microdrenagem para as águas chegou a causar enchentes na região (que teve a rua Silva Jardim apelidada de “rua das cabritas” por causa da criação de animais). Na década de 1980, a Prefeitura de Jundiaí chegou a cogitar a demolição do agora monumento e enfrentou uma grande mobilização popular contra a ideia. Mas fez então o afastamento da margem esquerda, tirando o aspecto utilitário da ponte (que já tinha perdido os barrancos laterais) e originando o atual aspecto simbólico, de monumento.

O projeto, sob a orientação do prefeito Pedro Bigardi, foi desenvolvido pela Secretaria de Planejamento e Meio Ambiente em conjunto com o Estúdio Sarasá, com apoio de diversos outros setores, como a Secretaria de Cultura. A experiência de depoimentos gravados é defendida por moradores como um método a ser estimulado para a memória da comunidade.

José Arnaldo de Oliveira


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