O consumo de uvas in natura retomado em maio nas barracas de produtores ou nas gôndolas do mercado, especialmente da tradicional variedade Niágara Rosada, reforçou no mês de maio a histórica identidade de Jundiaí como “Terra da Uva”.
Mas poucos sabem que essa safra extra, chamada de “safrinha”, foi viabilizada ao longo dos anos pelo esforço de pesquisa de cientistas e agricultores para o desenvolvimento de uma poda adicional (chamada temporã), realizada depois da colheita entre os meses de dezembro e fevereiro.
Devido à ausência de chuvas no verão 2015-2016, a safrinha teve uma boa produção de frutas com um sabor considerado muito bom pelos agricultores. No sistema de cultivo adotado na região de Jundiaí, em média, a produtividade varia de dois a dois quilos e meio por planta na safra, enquanto na safrinha oscila entre um e meio a dois quilos.
O produtor Ademir Minjone, da área rural do Caxambu, afirma que há muitos anos pratica essa técnica e destaca a qualidade das uvas deste ano. “Está melhor do que na época normal, mais doce e saudável, muito boa, além de sair mais rápido”, afirma, destacando a renda adicional em uma fase difícil da economia como um todo para todos aqueles que lutam para manter a atividade tradicional e ao mesmo tempo inovadora.
Mas ele lembra também que usa apenas uma parte da plantação para essa atividade da safrinha porque ela atrasa um pouco a posterior poda normal.
De acordo com a Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Turismo, o sistema exige cuidados adicionais para a longevidade dos vinhedos e o monitoramento de fungos, por exemplo, porque a época de produção de frutos é prolongada dentro do ano.
Levantamento
No Estado de São Paulo, 30% da produção de uvas de mesa é originária de Jundiaí, fortalecendo a posição do Brasil entre os 15 maiores países produtores da fruta no mundo.
O Levantamento Censitário das Unidades de Produção Agropecuária do Estado de São Paulo (LUPA) aponta que a área produtora de uvas de mesa em Jundiaí chegou a 1.843 hectares (ha) em 2010 em parte de suas 1.492 propriedades rurais segundo estimativas.
Além de sua própria área e de pontos de “colonização” de produtores jundiaienses em outros municípios mais distantes como Indaiatuba, São Miguel Arcanjo ou Porto Feliz, a região conta também com áreas de produção em Itupeva (518 ha), Louveira (328 ha), Jarinu (274 ha), Itatiba (185 ha) e Atibaia (164 ha) em dados de 2010.
Cuidados
Ao lado do desenvolvimento de técnicas como a substituição gradativa do cultivo em espaldeira pelo chamado cultivo em Y (que permite a mecanização de pequeno porte nas pequenas áreas rurais, compensando a queda de mão de obra), Jundiaí conseguiu mesmo com redução de propriedades ativas a estimativa da safra convencional (dezembro-fevereiro) entre 25 a 27 mil toneladas.
Para o produtor Anderson Tomasetto, do bairro rural do Traviú, a técnica que usa uma poda temporã no “arame do meio” depois da poda da colheita de dezembro-fevereiro exige cuidado nessa época de chuvas e menos riscos de fungos com a chegada do outono-inverno. “Estes dias chuvosos deste mês são atípicos. As uvas concentram o açúcar, estão mais doces e o mercado aceita bem essa safrinha que entra junto com as uvas das regiões de Jales ou Pirapora de Minas”, observa.
Ele também usa apenas uma parte da plantação (30% a 40%) para a safrinha e se mantém atualizado sobre as técnicas de controle de fungos.
Referência
O município é referência estadual e nacional em muitos aspectos relacionados com a uva e, em especial, com a variedade Niágara Rosada surgida localmente em 1933.
A Prefeitura retomou o formato tradicional da Festa da Uva em 2013, valorizando agricultores e artistas locais e transformando o evento em alavanca para o turismo local ao passar de 37 mil visitantes em 2012 para 167 mil visitantes em 2016, sem contar a venda de 63 toneladas de frutas que praticamente haviam desaparecido no formato anterior.
Outra novidade foi o surgimento do Programa de Subsídio de Seguro Agrícola, que tem coberto 50% do saldo desse tipo de seguro devido por agricultores.
A cooperação inter institucional também ocorre entre o poder público e as mais diversas entidades agrícolas, turísticas, de ensino e de pesquisa científica voltadas ao segmento.
“O setor rural também tem sido reconhecido como fator da economia local, com a venda direta de produtores nos diversos programas de abastecimento, e como gerador de benefícios ambientais para a comunidade jundiaiense (água, clima, biodiversidade e paisagem cênica) com previsão de programa de remuneração de serviços ambientais discutido e incluído no Plano Diretor Participativo, em análise na Câmara Municipal, afirma a secretária de Agricultura, Abastecimento e Turismo, Valéria Silveira de Oliveira.
Prefeitura de Jundiaí